sábado, 16 de outubro de 2010

Empreendedorismo. Poe, João Mansur.


O Empreendedorismo Revolucionário

Muito se comenta sobre o papel da estabilização macroeconômica, das reformas constitucionais, da abertura dos mercados e de mecanismos de distribuição de renda no atual ciclo de desenvolvimento econômico e social do Brasil. Eu gostaria de chamar a atenção para um fator talvez menos evidente: o empreendedorismo brasileiro. Independente de sua definição exata, empreendedorismo está associado a desafio, trabalho, criatividade, capacidade de execução, iniciativa, flexibilidade, inovação, pragmatismo, conhecimento, poder de decisão e várias outras qualidades presentes em indivíduos dispostos a tomar riscos para transformar sonhos e ideias em projetos e realizações. A história das sociedades capitalistas mostra que o espírito empreendedor fomenta a competitividade e o progresso econômico. Um estudo da ONU avalia que o desenvolvimento do empreendedorismo depende de dois pilares: a habilidade dos empreendedores e o ambiente para empreender.

Em relação ao primeiro, há um aspecto curioso na experiência brasileira. Nossas adversidades econômicas de tantas décadas criaram empresários e empreendedores capazes de sobreviver num ambiente muito hostil. A inflação descontrolada durante tantos anos colocou no DNA do brasileiro uma capacidade de entender o custo do dinheiro no tempo que, nas sociedades desenvolvidas, só é encontrada em financistas. A dificuldade no acesso a capital, a burocracia para criar empresas, os altos e ineficientes impostos e os custos trabalhistas exorbitantes, entre outros obstáculos, fizeram com que apenas os empreendedores mais eficientes sobrevivessem.

Analisando o segundo pilar do estudo da ONU, podemos identificar na nossa história recente algumas fases do ambiente brasileiro para empreender. As dificuldades econômicas da década de oitenta e o processo de estabilização da década de noventa formaram empreendedores preparados para triunfar no novo milênio. O Brasil tem hoje diversos setores em ebulição. Além dos exemplos mais óbvios das multinacionais brasileiras e dos tradicionais exportadores de commodities, há também empresas menores surgindo com excelência em setores onde o Brasil não tem histórico competitivo, como informática, serviços de consultoria especializada e biotecnologia, só para citar alguns.

A revolução microeconômica em curso em vários setores da nossa economia tem dado uma contribuição relevante para a atual prosperidade econômica do Brasil. Sem o empreendedorismo e as oportunidades por ele criadas, não estaríamos vendo o extraordinário desenvolvimento dos nossos mercados de capitais e nem o aumento da relevância do Brasil no cenário mundial. A estabilidade macroeconômica é pré-condição para a entrada de investimentos diretos no País. Mas o que de fato determina a magnitude desse fluxo de investimentos e sua manutenção nos altos níveis atuais são as oportunidades criadas na economia.

Ao longo de muitas décadas acostumamo-nos a louvar recursos naturais como origem de nossas riquezas. Mas hoje, felizmente, começam a aparecer o papel do empreendedor e demais recursos humanos do nosso País como vantagens competitivas. O empreendedorismo brasileiro pode vir a ter a mesma relevância no nosso desenvolvimento econômico que teve o americano em meados do século passado ou o japonês na segunda metade do mesmo século. Mas precisamos expandir este ciclo virtuoso entre as habilidades dos nossos empreendedores e o ambiente para empreender, fazendo deles uma bandeira de prosperidade econômica.

Nenhum comentário:

Postar um comentário