sábado, 11 de setembro de 2010

Gastronomia. Por, Silvia Madureira.


Vinho, Guerra e Gastronomia, personagens de uma mesma história do Século XX

“Alemães conseguem invadir a França e se apoderaram das fórmulas mais exclusivas de fabricação de vinhos franceses, a partir de agora os vinhos franceses serão produzidos em território alemão”

( Manchete fictícia de um jornal alemão,no período pós-guerra )

Essa manchete parece ficção ? Mas poderia não ser, caso os franceses não tivessem sido habilidosos e sagazes na proteção de um dos seus maiores patrimônios culturais, os vinhos !

Para os apreciadores de vinho e história , é imprescindível a leitura do livro “Vinho & Guerra – Os franceses, os nazistas e a batalha pelo maior tesouro da França”, escrito por Don e Petie Kladstrup é um prazer . . Ele mostra a luta entre os vinicultores franceses e o exército alemão na Segunda Guerra Mundial pelo vinho francês. A obra relata a trajetória de cinco importantes famílias das principais regiões vinícolas da França, durante a ocupação nazista: os Drouhin, na Borgonha; os Miaihle, em Bordeaux; os Hugel, na disputada região da Alsácia; os de Nonancourt, na Champagne e os Huet, no Vale do Loire.

A história começa quando, após a Primeira Guerra Mundial, a safra de 1939 prometia ser péssima para os vinhos franceses. Para completar o temor, a Alemanha nazista ganhava força e ameaçava invadir a França. Após a anexação da Áustria e a invasão da Tchecoslováquia, esse temor ganhou ainda mais intensidade. Finalmente, com a invasão alemã na Polônia, França e Inglaterra decidiram entrar na guerra. Durante algum tempo, antes da luta se deflagar, os produtores de vinho voltaram suas atenções para suas videiras e esqueceram um pouco a iminente ameaça nazista. Em abril de 1940, no entanto, as tropas alemãs invadiram a França, que se rendeu facilmente. Ao se darem conta do que se passava, já era tarde demais para os vinicultores salvarem suas propriedades.

O exército do Terceiro Reich não teve cerimônia de saquear tudo o que via pela frente. Na França. Entre os principais produtos, o vinho era um dos destaques. Desesperados, os chefes das famílias buscam uma forma de não perder seus melhores vinhos, para os alemães. Na Borgonha, Maurice Drouhin guardou suas melhores garrafas, entre eles os Romanée-Conti das safras 1929 a 1938 atrás de uma parede falsa em suas caves subterrâneas. Em outras regiões, os produtores escondiam do jeito que dava seus melhores vinhos, seja nas paredes construídas em caves e adegas e até mesmo no fundo do lago.

Apesar do esforço, a grande maioria dos vinhos foi saqueada pelos alemães. Para piorar, as vinícolas foram invadidas e serviram de abrigo para as tropas nazistas. Os funcionários que trabalham nas casas foram enviados para a guerra e para os campos de concentração, assim como muitos vinicultores. Os cavalos que preparavam os campos foram servir o exército alemão. A produção dos vinhos praticamente parou nos momentos de guerra e, cada vez mais, a pilhagem desenfreada prejudicava os cidadãos franceses.

Para segurar os saques desenfreados, o exército alemão designou homens que intermediavam as negociações entres os vinicultores e os alemães que quisessem comprar os vinhos. Os Weinführers, como eram chamados, conheciam os produtores e facilitavam as compras e não deixavam os soldados saquearem os vinhos.

Com o passar do tempo, o sofrimento dos franceses aumentava. A escassez de comida e conforto revoltava a população. O exército de Resistência ganhava cada vez mais força e adesão da população cansada da ocupação alemã. Os vinicultores, em seus campos de concentração ou lutando na guerra, só pensavam em uma coisa: seus vinhos. O que lhes dava força para suportar o horror da guerra era pensar em seus vinhedos e sua produção.

As esperanças só voltam a crescer com as notícias de que as tropas americanas entrariam na guerra e libertariam a França da ocupação nazista. A invasão dos Aliados na Normandia, em 1943, voltou a levar esperança aos franceses, quando finalmente os alemães estavam se retirando da França, após a vitória dos aliados .

Mas ainda faltava uma coisa para os franceses, que era recuperar o seu maior patrimônio roubado: os vinhos. Começa a busca das tropas aliadas atrás do “Ninho da Águia”, residência de Hitler em Berghof, na cidade de Berchtesgaden, nos Alpes bávaros. Os franceses chegaram antes dos americanos na casa e encontraram um tesouro inestimável. Quadros, esculturas, e os grandes e famosos vinhos da França.

A comemoração foi em grande estilo, regada com os vinhos recuperados. Os americanos foram recepcionados como heróis. Os vinicultores que sofreram com a guerra voltaram para casa, realizando seus sonhos de viver em paz, fazendo o que mais amavam.

Essas histórias foram passadas por várias gerações, pós-guerra como a do "Chateau Mouton Rothschild". A Baronesa Philippine de Rothschild é filha do lendário Baron Philipe, um dos maiores ícones do mundo do vinho. A história que Philippine traz da Segunda Guerra Mundial é uma das mais dramática capturada pelos nazistas, sua mãe faleceu em Ravensbruck, em 1945 e sua propriedade invadida e destruída . A baronesa Philippine herdou do pai a personalidade excêntrica e conseguiu manter o prestígio do "Chateau Mouton Rothschild" após a morte do barão, em 1988. Essa é somente uma das muitas histórias que são contadas sobre esse período nebuloso, pelos vinicultores que sobreviveram á essa trágica fase da história da gastronomia francesa.

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