quinta-feira, 31 de março de 2011

Política. Por Nathalia Faria.


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Observações de uma leiga: A arte de um discurso falacioso

Carl Von Clausewitz, estrategista militar e autor de " guerra", possui como uma de suas máximas mais dissipada que a " a guerra é a continuação política por outros meios". Ele a concebe de forma objetiva, de forma que ela só existiria se houvesse um objetivo político definido. Com a crise no Oriente Médio, a justificativa de ingerência do Ocidente em países arábes se perfaz por uma sociedade que se demonstra a mais evoluída e coerente com os seguintes pilares: democracia, dignidade da pessoa humana, proteção aos civis e respeito às soberanias dos Estados. Ou seja, um emaranhado de bravatas num mundo de contradições e conveniências.Talvez o que se viva sejam hipocrisias e repetições históricas e estratégicas disfarçadas de um humanitarismo frágil, que se trasmuta ao menor toque em Cruzadas e Imperialismo.

Num discurso clichê e bem articulado, Obama talvez nunca tenha mencionado tanto a palavra "together". Em suas palavras convenientes, lúdicas, agradáveis e nacionalistas, Obama ressaltou a democracia e a possibilidade de ascensão social; exaltou o compromentimento com as economias mais verdes e fontes de energia renováveis; descreveu a identidade entre Brasil e EUA no que tange à colonização; e que afirmou que "nenhum país deverá impor sua vontade ao outro" para atingir a democracia. Lembrou de Paulo Coelho, mas esqueceu-se de falar do Brasil no Conselho de Segurança da ONU, das práticas anticoncorrencias dos EUA em relação ao Brasil, e de mencionar que estava autorizando um intimidação bélica na Líbia enquanto visitava os "irmãos" americanos. Claro que, após sua autorização, discursou sobre a proteção dos civis e sobre as atrocidades de um ditador que não respeita a dignidade da pessoa humana, hoje inerente a qualquer ser humano. Inevitável é se questionar sobre qual democracia se protege; quais civis e quais Estados devem ser respeitados; o que é economia verde frente a não assinatura da Protocolo do Kyoto ou mesmo o que é dignidade da pessoa humana frente a Abu-ghraib.

Indubitavelmente, democracia e dignidade da pessoa humana, mais do que conceitos, são práticas. Hoje, ao abrir os jornais, viu-se um soldado americano que atuou na Guerra contra o Aferganistão, integrante do que se intitulou " kill team", depondo em seu julgamento sobre o assassinato de três civis afegãos: "o plano era matar pessoas". Quais pessoas? Civis, inclusive crianças e mulheres. Se há provas? Há fotos assustadoras no site das revistas " Rolling stones" e " Der spiegel". O soldado também relata que jogou a granada em Mudin (uma de suas vítimas), mas ele " não era uma ameaça". Bem, mesmo para um dos maiores estrategistas militares, havia também uma outro brocardo a ser respeitado : " a destruição física do inimigo deixa de ser ética quando ele pode ser desarmado em vez de morto". É, no mínimo irônico, que um "país aliado" adentre em território de outro Estado, e de forma autorizada, para "matar pessoas"; e que seus oficiais não saibam disso. E mais, que seu Presidente com discurso nacionalista e humanitário também não saiba disso. Isso é democracia? Isso são só Cruzadas repaginadas, Imperialismo disfarçado, Terrorismo mitigado, mas agora com a justificativa ideológica da Democracia e da defesa da Dignidade da Pessoa Humana. Essa é verdadeira arte do discurso.

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