domingo, 25 de abril de 2010

QUEM ENTRA E QUEM SAI DA FAVELA



Em dezembro passado o governador Sérgio Cabral deu um alerta aos traficantes da Ladeira dos Tabajaras:

- Já estou avisando para os traficantes irem embora para não haver mais problemas.

Mais uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) logo seria instalada naquela comunidade e os traficantes que ali exerciam o comércio ilegal de drogas foram expulsos da favela.

Contudo, embora seja merecedora de aplausos, a iniciativa de criação das UPP´s, por si só, não é suficiente para aniquilar o caos social que se instalou em nossa cidade – e em todo o país. A partir de duas simples indagações é possível identificar que o problema não pode – e não será – resolvido com a entrada e permanência da polícia, pelas UPP´s, nas favelas: Para onde irão esses traficantes? O que farão para conseguir o seu “salário”, a partir de agora?

A instalação das UPP´s é uma medida eficaz a curto prazo. Porém, sob um outro prisma, analisando a conjuntura social do Rio de Janeiro nos dias atuais, é fácil verificar que somente a entrada da Polícia Pacificadora nas comunidades carentes é uma solução simplista e ineficaz.

Em 1997, o Consultor de Segurança Pública, Rodrigo Pimentel, concedeu entrevista a João Moreira Salles e Kátia Lund, quando estes produziam um documentário sobre a violência de nossa cidade, intitulado “Notícias de Uma Guerra Particular”. Rodrigo, à época Capitão do Batalhão de Operações Especiais (BOPE), acertadamente, identificou a complexidade do problema:

- [...] Só a polícia não resolve.

Não é difícil compreender que o vácuo deixado pelo poder público nas favelas, ao longo das últimas décadas, abriu um terreno extremamente fértil para o cultivo de atividades ilegais, notadamente o tráfico de drogas.

A ausência de prestação dos serviços públicos mais elementares, como saúde, educação e segurança, trouxeram ambiente amplamente propício ao desenvolvimento de organizações criminosas.

Contudo, não se deve perder de vista que estas não se resumem ao tráfico de drogas. Em diversas comunidades carentes, deu-se o fenômeno da expulsão dos traficantes de drogas locais e sua substituição pelas denominadas milícias. Estas passaram a produzir sua receita através da cobrança de taxas da própria comunidade e exploração de “serviços”, tais como gás, transporte ilegal de vans, “gatonet”, entre outros.

Igualmente ao comércio de drogas, as atividades exercidas pelas milícias são ilegais e também geram medo e violência.

Como se vê, faz-se necessário o ingresso do Estado dentro das favelas com todos os seus órgãos e serviços e, não só, a polícia e a pretensa “segurança pública”.

As UPP´s, em um primeiro momento, se mostram necessárias e eficazes – e já renderam prêmios ao Secretário de Segurança, José Mariano Beltrame -, mas por si só não serão capazes de erradicar a violência que está tatuada no rio de janeiro.

Resta imperioso que o Estado aproveite a “pacificação” do momento para ocupar os espaços deixados por administrações temerárias que ocuparam as cadeiras políticas cariocas nas últimas décadas.

Caso isso não ocorra, as lacunas sociais permanecerão abertas e funcionarão como a mais eficiente fábrica para produção do “exército de mão de obra marginal excedente”. Esses, certamente, explorarão atividades ilegais nos lotes de caos social deixado pelo Estado, seja através do tráfico de drogas, seja através das milícias e seus “serviços público-privados”, seja através de qualquer outra atividade criminosa que a criatividade deles puder oferecer.

A saída dos traficantes da Ladeira dos Tabajaras é um fato consumado. Porém, para onde irão e a atividade que passarão a desempenhar são incógnitas. A resposta está nos próximos passos que as autoridades públicas darão.

Em tempo: A proposta apresentada recentemente pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro para a ocupação do morro da Providência parece indicar um caminho mais adequado para a ocupação das comunidades carentes. A proposta de disponibilização de saúde, segurança, educação e lazer parece ser uma opção acertada. Mas, por ora, é só um projeto. Enquanto isso, vamos de UPP´s.

Por:Isabela H. G. Leite

Foto: EBAND

Rio de Janeiro, 09 de Abril de 2010

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